segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Moça, você precisa do feminismo

Dedico esse texto as Marias, Nazihahs, Kytzias, Shairas, Pietras, Liangs, Ellens e tantas outras mulheres que morrem diariamente no mundo.

 "Prefiro mil vezes empoderar uma mulher em vez de explicar feminismo para um cara!"
 Eu tento viver essa frase, E motivos para isso não faltam.
  Um dia desses estava "passeando" pelo Facebook quando me deparei com uma campanha horrenda promovida por uma página mais horrorosa ainda:
"Eu não preciso do feminismo porque não me faço de vítima!"
E haviam umas 30 fotos de mulheres com essa placa.
Na descrição do álbum estava escrito:
"Querem ter sua foto publicada aqui, e serem muito xingadas e perseguidas pelas feminazis?(...) Vamos mostrar que nem toda mulher apoia esse movimento medíocre, que a única coisa que tem conseguido, é manchar a imagem da mulher!"
 Confesso que chorei quando vi todas aquelas mulheres, minhas irmãs, segurando aquelas placas. Mas se eu senti raiva delas? De maneira alguma!
Tenho a total consciência de que isso é apenas a reprodução de algo que todas nós vemos e vivemos desde a ascensão do patriarcado . 
 Gostaria de dizer uma coisa sobre essas "plaquinhas":
Nós mulheres NÃO precisamos nos fazermos de vítimas. Pois JÁ SOMOS vítimas!
Somos vítimas de um sistema que nos oprime, humilha e faz com que pensemos que tudo isso é normal, que não há nada de errado nisso tudo.
Somos vítimas de uma sociedade que se acha dona de nossos corpos no qual andar pela rua - e não necessariamente sozinhas ou/e a noite- estamos pedindo para sermos estupradas. Ou usam a desculpa de roupas "inapropriadas" para cometerem esse ato sádico e desumano.
"-Mas DF, eu acho que as mulheres que estão com roupas curtas e super decotadas estão pedindo mesmo!"
-Não pessoas queridas, elas não estão pedindo nada!
O que dizermos então das centenas de mulheres da Praça Tahrir?
Foram mulheres que pelo fato de serem mulheres foram violadas.

Cordão de isolamento para [tentarem]
proteger mulheres em Tahrir.
Segue abaixo a declaração de Hania Moheeb, uma das centenas de vítimas dessa violência:
 "Nunca imaginei o que me fariam em apenas alguns minutos. Fizeram um círculo fechado ao meu redor. Começaram a tocar cada parte de meu corpo, a violar cada parte de meu corpo. Estava tão traumatizada que só conseguia gritar. Não podia falar nem pedir ajuda, apenas gritar"
Essa mesma mulher, afirmou também  que, nos últimos anos, as mulheres egípcias se acostumaram a ser vítimas de violência sexual, principalmente quando há grandes aglomerações. O feriado do Eid (festa religiosa muçulmana) é uma das mais perigosas.
 E os homens, para [tentar] uma defesa, usaram as desculpas mais esdrúxulas como:
"Estamos deprimidos, não encontramos trabalho e nem temos dinheiro, o que você espera?"
Ou até mesmo a declaração de um rapaz chamado Maqbool:
 "Se está aqui e vê uma menina vestida de forma indecente, o que vai fazer? Não se pode evitar!"[Leia aqui]
E essas mulheres usam Hijab. Pra quem não sabe o que é isso, é um lenço usado por mulheres islâmicas para protegerem a sua modéstia e honra. 


Elas estavam pedindo para serem estupradas? Óbvio que não!
Estavam em praça pública, reivindicando as mesmas coisas que os homens que as violentaram.
Esses abusos deram origem a um documentário onde mostram as violências e os depoimentos de Hania e outras mulheres que passaram por esse episódio tão traumático e asqueroso.


  Como se não bastasse, Abu Islã [um pregador salafista radical do Egito e dono do canal de TV al-Ummah] disse que: estuprar e assediar sexualmente mulheres que protestam(...) é justificado pelo comportamento das ativistas.
                                                

                             Estupro justificável

O que justifica um estupro?Infelizmente, vivemos em um sistema tão opressor que estupros são justificáveis.
A roupa, a fala, o comportamento, o que esta fazendo... Tudo isso é justificativa para sermos Violadas. E não é apenas no Egito, África, Iraque, onde essas coisas acontecem. Vivemos em um mundo que odeia mulheres . Que nos matam todos os dias e milhares de vezes. Onde homens, desde crianças são ensinados que mulheres são indefesas e mais fracas. Por isso  podem fazer conosco e com nossos corpos o que querem.

                           Tipos de violência contra a mulher


Violência sexual é apenas um dos vários abusos que sofremos pelo único fato de sermos MULHERES.
O site Terra fez uma matéria especial sobre esse tipos de violência.




"No relatório elaborado no Congresso Nacional, consta que, com base nos dados da ONU, entre 2004 e 2009, 66 mil mulheres foram assassinadas no mundo, só por serem mulheres. Entre 1980 e 2012 dobrou o tipo de assassinato no Brasil: de 2,3 homicídios passou para 4,6 por cada 100 mil mulheres. Esse sistema é tão aterrorizante que até o Estado admitiu isso e no dia 16/07/2013 o código penal foi alterado para inserir o crime de feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio"
Quando mais nova, antes de conhecer o movimento feminista de fato, eu fazia tratamento psicológico no Núcleo Especial de Atendimento à Criança e ao Adolescente Vítimas de Violência Doméstica e Sexual de São Gonçalo- NEACA-SG projeto realizado pelo Movimento de Mulheres em São Gonçalo-MMSG. E fui convidada para uma atividade na Fundição Progresso. Sabia que era algo sobre violência contra a mulher. Quando cheguei no evento, vi algumas apresentações [todas por mulheres] e na hora mais importante do evento, vi uma mulher no púlpito. Ela era uma mulher de uns 60 anos e estava numa cadeira de rodas. O nome dela? Maria da Penha Maia Fernandes. E foi ali, que eu conheci de verdade a história daquela mulher. mulher essa que como tantas outras teve a vida quase arrancada pelo companheiro. E quantas Marias da Penha ainda existe e vão existir? Quando penso naquela mulher, sentada naquela cadeira e penso em todas as lutas que ela enfrentou para [tentar] fazer com que mulheres não passassem pelas mesmas coisas que ela passou me deixa triste. Triste pelo fato de saber que nem com a lei que carrega o nome dessa guerreira, as coisas melhoraram. Pelo contrário, gráficos mostram ao contrário.


Estima-se que ocorreram, em média, 5.664 mortes de mulheres por causas violentas a cada ano, 472 a cada mês, 15,52 a cada dia, ou uma a cada hora e meia

O Brasil ocupa o 7° lugar no ranking dos países com maior número de feminicídios e o 7° em assassinatos. as mulheres negras são mais de 60% comparadas com mulheres brancas.No Brasil, 61% dos óbitos foram de mulheres negras (61%), que foram as principais vítimas

em todas as regiões, à exceção da Sul. Merece destaque a elevada proporção de óbitos de
mulheres negras nas regiões Nordeste (87%), Norte (83%) e Centro-Oeste (68%).
• A maior parte das vítimas tinham baixa escolaridade, 48% daquelas com 15 ou mais anos de
idade tinham até 8 anos de estudo.
• No Brasil, 50% dos feminicídios envolveram o uso de armas de fogo e 34%, de instrumento
perfurante, cortante ou contundente. Enforcamento ou sufocação foi registrado em 6% dos
óbitos. Maus tratos – incluindo agressão por meio de força corporal, força física, violência
sexual, negligência, abandono e outras síndromes de maus tratos (abuso sexual, crueldade
mental e tortura) – foram registrados em 3% dos óbitos.
• 29% dos feminicídios ocorreram no domicílio, 31% em via pública e 25% em hospital ou outro
estabelecimento de saúde.
• 36% ocorreram aos finais de semana. Os domingos concentraram 19% das mortes. 
(Fonte: IPEA)
 A pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (Nepem) da Universidade de Brasília (UnB), Bruna Cristina Pereira, apresentou dados de estudo que resultou de sua dissertação de mestrado, intitulada "Tramas e Dramas de Gênero e de Cor – A violência doméstica e familiar contra as mulheres negras".
     "houve um aumento de mais de 400% de violência contra mulheres negras. Vemos que há um recorte étnico-racial forte e isso precisa ser enfatizado. As mulheres negras morrem e apanham mais devido a uma dupla violência: de gênero e racial"
O nome disso é genocídio!
Moça, você conhece a palavra Sororidade?
Sororidade é  o pacto entre as mulheres que são reconhecidas irmãs, sendo uma dimensão ética, política e prática do feminismo contemporâneo.
É meu dever como mulher, mãe e feminista ter sororidade com todas as mulheres, com todas as minhas irmãs. É o que todas nós devemos ter uma pela outra. Não somos rivais. Somos vítimas das mesma opressão que é o machismo só que umas sofrem outras opressões além disso. Racismo, homofobia, lesbofobia, bifobia, gordofobia, elitismo, preconceito social... São agravantes de opressões.
 Irmã, eu te amo! E por ter sido empoderada um dia por uma mulher, eu quero poder mostrar para você que não somos inimigas. Que esse movimento não é medíocre e que eu e todas as feministas queremos é apenas que você possa ter consciência da força que você tem e que juntas somos mais fortes ainda.
 Moça, estou aqui com todas as outras irmãs lutando por todas nós. E esperando a liberdade que só você pode dar a si mesma! Liberte-se mulher!




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